Semana Santa: tradição católica da 'Charola' reúne grupo há mais de um século no interior de MG
13/04/2025
(Foto: Reprodução) Fiéis saem em procissão pelas casas do Distrito de Marilândia, em Itapecerica, levando imagens sacras e angariando doações para ajudar a Igreja. Charola percorre as casas em Marilândia, durante a Semana Santa
Há mais de um século um grupo formado inicialmente por homens segue a tradição da 'Charola', uma manifestação cultural religiosa que acontece durante a Quaresma no distrito de Marilândia, em Itapecerica, no Centro-Oeste de Minas.
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Um rito de fé que é passado de geração em geração. Os fiéis saem em procissão pelas casas carregando imagens sacras e angariando doações para a Semana Santa.
Raimundo Honório da Silva, de 80 anos, participa da Charola há mais de 30 anos. Ao g1, ele contou que a Charola nasceu antes mesmo da televisão, por isso, um dos objetivos do grupo em visitar as casas era também convidar a população para participar das festividades da Semana Santa em Marilândia.
"Na época dos meus avós saiam dois santos [os charoleiros iam carregando os santos pelas ruas], um deles ia para o lado de Santo Antônio do Monte e o outro saia para o lado de Carmo da Mata. Andavam 40 dias, e não tinha televisão, rádio, jornal, então eles saiam convidando o povo para a festa e arrecadando a esmola para fazer a Semana Santa", explica Raimundo.
Charoleiros em procissão por Marilândia
Arquivo Pessoal
A tradição de percorrer a pé as casas se manteve mesmo com a evolução dos veículos de comunicação. Atualmente, o grupo conta com poucas pessoas, até mesmo porque muitos idosos que fizeram história na Charola já faleceram.
Mas se depender de Raimundo a tradição continuará viva.
'Não quero que acabe nunca, se acabar fica triste. O povo mais antigo aqui da Marilândia já pergunta: que dia que vai passar lá em casa, já fica esperando", diz Raimundo.
Raimundo, de 80 anos, fala sobre a saudade dos companheiros de Charola em Marilândia
Bem imaterial e cultural
A Charola é uma manifestação forte e importante para Marilândia e região. De acordo com a professora e historiadora Fransciane de Sousa Guimarães, a tradição foi inventariada como bem cultural imaterial pelo município de Itapecerica em 2023.
"Durante essas caminhadas, a imagem do Senhor dos Passos era carregada no andor, coberta com tecidos roxos, e revelada apenas aos moradores das casas visitadas. O momento era marcado por orações e cantos, criando um ambiente de espiritualidade, súplicas e doação" , acrescentou a historiada.
Ainda segundo Fransciane, quando a Charola começou, o grupo percorria as comunidades próximas porque elas não tinham igreja.
"No passado, os homens que saiam com a charola eram chamados de charoleiros e eram escolhidos por sua força física e fé, pois a caminhada era longa, com alguns desafios como chuva, sol e ameaças de bichos como cobra, marimbondos e abelhas. Hoje, sua prática é aberta à participação de todos, com forte presença das mulheres", completa a historiada.
Doações
A Charola também tem um papel social importante, arrecadando donativos destinados ao santuário. A tradição se encerra na segunda-feira da Semana Santa, durante a celebração eucarística, com a entrega do andor e do senhor dos passos à igreja. Neste ano, Raimundo contou que foram arrecadados R$ 3.515 em doações.
Raimundo fala sobre a arrecadação com a Charola 2025
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