'Nunca agiu assim', diz irmão de motorista de app que morreu após briga com passageiro e PM
23/07/2025
(Foto: Reprodução) Motorista de aplicativo agride policial militar durante ocorrência em Sabará
A família do motorista de aplicativo Miqueias Carlos da Silva, morto neste domingo (20) numa UPA após agredir um passageiro e dois PMs que tentavam contê-lo, afirmou que ele nunca havia agido de uma forma tão agressiva. O vídeo acima mostra o homem dando socos em um policial depois de ser atingido por arma de choque. O boletim de ocorrência diz que ele tentou pegar a arma de um PM.
Miqueias nunca chegou a sofrer condenação na Justiça, mas foi alvo de ao menos 10 boletins de ocorrência, por crimes como violência doméstica, tráfico de drogas, desobediência e calote.
Ao g1, o irmão de Miqueias, Ozéias Carlos da Silva, disse que ele sofria de depressão grave.
“Ele vinha de uma situação muito difícil, estava fazendo tratamento com psicólogo. O fato de ele estar em surto durante a ocorrência, isso não nos assusta, pode ter acontecido. Mas eu queria entender qual foi o motivo para ele ficar nesse estado. Ele nunca ficou assim, contou.
Ainda segundo o irmão do motorista, a família busca entender o que pode ter acontecido para desencadear a ação de Miqueias.
"Ele estava gritando, pedindo o celular dele de volta. E, por incrível que pareça, até agora não apareceu o celular dele, não apareceram os documentos e nem o dinheiro dele que ele rodou no aplicativo”, questionou Ozéias Carlos da Silva.
A ação da Polícia Militar
Ozéias também disse que a família entende que a PM precisou de fato usar a força para conter Miqueias por causa do ataque. No entanto, há dúvidas de como foi o trajeto até a Unidade de Pronto Atendimento de Sabará, já que ele morreu quarenta minutos depois que deu entrada.
"A polícia realmente tinha que conter ele e a gente entende que a polícia ela tinha que fazer o trabalho dela, só não foi eficiente. Eu acho que tem que ser explicado o que aconteceu do caminho até onde ele foi levado. A família não quer processar ninguém. A única coisa que fica é a dúvida do que realmente aconteceu", questiona Ozéias.
O g1 entrou em contato com a Polícia Militar e aguarda retorno.
As passagens policiais
Ozéias foi questionado sobre os boletins de ocorrência registrados contra o irmão.
“Ele teve alguns episódios com a ex-esposa dele, alguns envolvem pensão. Além do histórico de depressão, ele ficou um bom tempo desempregado. Trabalhou como motorista de aplicativo, parou e voltou a rodar porque alugou este carro do tio da ex dele. Apesar da relação complicada, eles sempre se apoiavam", disse.
O irmão também contou que Miqueias ia começar a trabalhar na segunda-feira como representante comercial e ia usar o carro para este trabalho. "Enquanto não começava, decidiu voltar a rodar como motorista. Ele sempre correu atrás, só estava passando por um momento difícil”, lamentou Ozéias.
Pai de dois filhos
O motorista Miqueias Carlos da Silva com os filhos de 8 e 2 anos.
Arquivo Pessoal
Miqueias deixou dois filhos, com idades de 2 e 8 anos. Ele foi casado com Bárbara Garcia, um relacionamento de mais de sete anos. No momento, o casal não estava juntos, mas a ex-mulher explica que ele era um pai presente. Ela esteve com ele horas antes do crime.
"Ele deixou os filhos dele em casa às 22h e foi trabalhar. Parecia estar bem. Às 3 da manhã ele falou com o meu pai, que é o ex-sogro dele. Às 4:30, foi a última mensagem que ele me enviou e ele estava bem. Ele era muito amoroso com os meninos. O mais novo chorava muito quando o Miqueias os entregava aqui em casa. Não quer sair de perto pai. Todos os dois muito apegados", explicou Bárbara.
Bárbara ainda informou que ela tem um terceiro filho, hoje com 15 anos, e que Miqueias o tratava como se fosse filho dele também, desde os seis anos.
"Meus filhos estão com um vazio no peito que, mesmo com todo o meu amor de mãe, nunca vou conseguir preencher. Todos nós só queremos a verdade dos fatos. O pequeno não entende ainda o que aconteceu mas chama por ele o tempo todo. O de 8 anos fala que quer acordar desse pesadelo e abraçar o pai dele. E o enteado também está muito triste", lamentou Bárbara.
Relembre o caso
Montagem mostra homem reagindo a abordagem policial e dando soco em PM após ser atingido por disparo de arma de choque
Reprodução/Redes sociais
Miqueias Carlos da Silva, morreu no último domingo (20), em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, após brigar com um passageiro, ser contido pela polícia e encaminhado para uma Unidade de Pronto Atendimento.
Segundo o boletim de ocorrência, durante a briga com o passageiro, a PM foi chamada. Quando a viatura chegou, a policial militar que dirigia o carro, foi agredida. Miqueias tentou tirara a arma dela. O outro militar que estava no banco do carona, tentou defender a colega e foi agredido com socos e chutes.
Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que o militar usa arma de choque e mesmo assim Miqueias reage. Foi chamado reforço. Após ser contido, ele é encaminhado para uma UPA. Quarenta minutos após dar entrada no local, ele teve uma parada cardiorrespiratória e morre.
A Polícia Civil informou que o corpo de Miqueias foi encaminhado para o IML, submetido a exame de necropsia e liberado à família. Foi aberta uma investigação sobre os fatos.
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